O assassinato do empresário Altair Aparecido dos Santos, 43 anos, um dos milionários que ganharam na Mega-Sena em maio do ano passado, completa hoje uma semana como um dos casos mais intrigantes investigados pela Polícia Civil de Limeira nos últimos anos.
O crime foi o principal assunto das conversas da população ao longo da semana. As perguntas seguem sem respostas, após quatro dias de apuração.
A polícia admite que a produção de provas é difícil. As circunstâncias apontam diversas hipóteses que, a cada dia, atraem e instigam a curiosidade em torno da identificação do assassino de um homem classificado como pacato e reservado pelos amigos, com uma união estável com a esposa, Maria Isabel Cano, simbolizada pelo filho de oito anos, cuja comemoração do aniversário foi o palco da tragédia.
O crime não teve testemunhas. No domingo, só parentes e amigos mais íntimos foram convidados para a continuação da festa iniciada no sábado. Após a saída dos convidados, ficaram na casa Altair, a esposa, o pai Vanadir, a mãe Conceição e o filho.
Pouco antes de ser alvejado, o empresário foi até a portaria do condomínio Portal das Flores deixar o lixo. Durante cerca de cinco minutos, o portão da chácara ficou aberto. A polícia não descarta a possibilidade de o assassino ter aproveitado esta oportunidade para entrar ao local.
Depois de retornar à casa, Altair saiu sozinho para apagar as lâmpadas de um quintal que fica aos fundos da chácara. A esposa, que se preparava para tomar banho, ouviu um barulho - não soube identificar se era um tiro. O marido foi encontrado caído em uma pequena área que fica ao lado do quintal.
Segundo relatos dos familiares, Altair sangrava pelo nariz e pela boca. Pensaram, a princípio, que se tratava de um acidente ou de um mau súbito.
A DIG calcula que o disparo tenha ocorrido entre as 21h30 e às 21h40 - o horário mais aproximado deve ser indicado pelo Instituto Médico Legal (IML). O vizinho Gilberto Manoel de Farias, que será ouvido esta semana, decidiu levar Altair até o hospital após demora da chegada da Polícia Militar.
Minutos após a retirada do empresário, familiares e conhecidos que se aproximaram decidiram limpar o sangue no chão para que o filho, que dormia naquele instante, não ficasse impressionado. Foi uma vizinha, cujo prenome foi identificado pela DIG como Isabel, que teria lavado o local.
Os policiais classificam a atitude da mulher, que prestará depoimento nos próximos dias, como inadvertida. A imprudência pode prejudicar os trabalhos da perícia efetuados pelo Instituto de Criminalística (IC), cujo laudo, que deve ficar pronto nas próximas semanas, trará detalhes que ajudarão na investigação, como a identificação do calibre da arma. O tiro transfixou o coração de Altair e, como o projétil não ficou alojado, o instrumento utilizado pelo assassino ainda é desconhecido.
O muro dos fundos do quintal da chácara é perfeitamente escalável e se configura como o trajeto mais provável tomado pelo autor do crime na fuga. Do lado de fora, há uma árvore que facilita o acesso à parte interna da propriedade. Um vizinho relatou à polícia ter ouvido passos nas folhagens de seu terreno na noite do assassinato. A polícia acredita que o autor dos disparos tenha fugido a pé. O porteiro do condomínio, Laudelino Pereira, não notou movimento suspeito na entrada do condomínio.
A primeira linha de investigação recaiu sobre Dorgival Bezerra de Oliveira, 52, o “Chaveiro”. Ele e o motorista Igor Vieira Camargo foram excluídos do “bolão” vitorioso porque não pagaram no dia da aposta. Os treze milionários, incluindo Altair, dividiram o prêmio de R$ 16.192.436,64.
Os dois reclamaram a parte, registraram boletim de ocorrência e até cogitaram ingressar ação na Justiça. Um acordo, entretanto, deu aos dois excluídos uma quantia menor. “Chaveiro” ficou com R$ 270 mil, mas nunca se conformou em ver os amigos milionários.
“Chaveiro” foi citado pela esposa de Altair. Segundo a viúva, o marido foi ameaçado três dias antes do crime. Ela ouviu comentários de que “Chaveiro” teria dito, numa conversa de bar, que “Limeira havia ficado pequena para os dois”.
Dorgival conta que soube da morte do empresário ao ser procurado por uma equipe de reportagem da TV Record na manhã seguinte. Ao saber que era tido como suspeito, apresentou-se espontaneamente à DIG. Relatou que havia ido comprar lanche para a neta na noite anterior e que jamais desejaria a morte de Altair, mesmo com a mágoa por não ter recebido a mesma parte do prêmio.
O depoimento de “Chaveiro” foi convincente para a polícia - a polêmica frase foi explicada como um desabafo. Dorgival alegou que não suportava ver os amigos milionários e queria ir embora da cidade. Procurara Altair há cinco meses para pedir mais dinheiro para comprar uma casa fora da cidade e recebeu um “não” como resposta.
A DIG não acredita que “Chaveiro” tenha sido o assassino ou o mandante do crime. Da mesma forma, os familiares também não aparecem como suspeitos potenciais. Por cautela, a polícia ainda mantém todas as linhas de investigação abertas.
Duas outras hipóteses foram listadas pela polícia, mas ambas ainda carecem de maior aprofundamento: crime passional e tentativa de latrocínio. No primeiro caso, a DIG não entra em muitos detalhes par evitar a exposição da família ao tema - como não há provas concretas até agora, os investigadores avaliam que a abordagem do assunto pela mídia pode trazer prejuízos morais incalculáveis aos familiares.
Na segunda hipótese, o mistério permanece porque, até agora, a família não notou o desaparecimento de objetos ou de dinheiro. Nas palavras da polícia, “todas as hipóteses continuam sendo investigadas”, o que supõe demora para a elucidação do caso. Por enquanto, não há nem mesmo a ligação concreta entre o prêmio da Mega-Sena e a morte do empresário, ocorrida há quase um ano e seis meses completos hoje do sorteio dos números 27, 29, 42, 50 e 51.
Até a última sexta-feira, oito pessoas prestaram depoimentos. Nesta semana, o delegado da DIG, João Batista Vasconcelos, quer terminar de ouvir todas as pessoas que participaram da confraternização. Em sua opinião, familiares e amigos podem fornecer informações preciosas para ajudar no esclarecimento do crime.
Um detalhe deve ser elucidado nos próximos dias. A polícia quer saber se Altair possuía uma apólice de seguro e, em caso positivo, qual o valor e quem se beneficiaria.
A morte de Altair chamou a atenção da imprensa nacional. Nos dias seguintes ao crime, grandes veículos de comunicação do País, como Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Diário de S.Paulo, Correio Popular, EPTV, Record, Bandeirantes e SBT, enviaram equipes de reportagem a Limeira.
Os portais de notícias mais importantes da internet, como IG, Terra e Uol, repercutiram intensamente o caso com destaques ao longo dos dias. Neste final de semana, duas importantes revistas de circulação nacional, Veja e Época, narraram os mistérios do assasssinato.
Nos últimos dias, as TVs Globo e Record enviaram equipes de reportagem investigativa para a cobertura do caso. Hoje, o assunto será tema de matérias especiais em dois programas de grande audiência, o Domingo Espetacular (Record) e o Fantástico (Globo).
domingo, 23 de novembro de 2008
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