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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O mistério da Mega-Sena

As circunstâncias do assassinato de Altair Aparecido dos Santos, 43, ainda permanecem envoltas em mistério ao fim do segundo dia de apurações. A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) tomou depoimentos de familiares da vítima e trabalha com várias linhas de investigação.

De acordo com o investigador Valmir Silva, a produção de provas do caso será complicada, mas um dos depoimentos tomados ontem - não revelado por sigilo estratégico - indicou um caminho positivo para a elucidação da morte de Santos, um dos 13 ganhadores do prêmio de R$ 16.192.436,64 da Mega-Sena em maio do ano passado.

Santos foi morto por volta das 21h30 de domingo, depois de um churrasco que comemorava o aniversário de oito anos do único filho, com convidados e parentes. Ao fim da festa, quando saiu sozinho para apagar uma das lâmpadas do fundo, ouviu-se um disparo. Santos estava morto com um tiro no coração.

A polícia obteve a informação de que o local do crime foi lavado inadvertidamente por uma conhecida da família, de nome Isabel, após a retirada do corpo de Santos. A atitude foi justificada como uma forma de proteger o filho do milionário, de 8 anos de idade, que dormia em um dos quartos.

Até então, os familiares acreditavam que Santos tinha sido vítima de algum acidente ou mal súbito. Isabel, que será ouvida pela polícia, teria limpado para que a criança não ficasse impressionada com a quantidade de sangue no chão. “É claro que isso dificulta os trabalhos da perícia, o ideal seria que o estado das coisas fosse preservado. Mas isso não atrapalha as investigações policiais, que são muito mais amplas”, disse Valmir.

O perito do Instituto de Criminalística (IC) que analisou o local do crime não estava na escala de trabalho ontem, devendo retomar as atividades hoje. A polícia acredita que o laudo deverá ser entregue nos próximos dias. Segundo Gildo Ciola, chefe dos investigadores, a prioridade ontem foi ouvir as pessoas mais próximas da vítima, respeitando a fragilidade dos familiares. “Começamos a ouvir os depoimentos, mas o trabalho deve continuar até a próxima semana”, afirmou.

Foram ouvidos o pai Vanadir José dos Santos, a mãe Conceição Villas Boas, a esposa Maria Isabel Cano dos Santos, 40, e um amigo de Santos. Todos saíram sem conversar com a imprensa. Hoje, deve ser ouvido o vizinho que socorreu o milionário até a Santa Casa, onde ele veio a morrer.

Investigadores da DIG conversaram com um vizinho da chácara que informou ter ouvido passos nas folhagens de seu terreno na noite do crime. Os policiais visitaram o local. Segundo Valmir, o assassino pode muito bem ter escalado o muro. “Há uma árvore que até facilita o acesso”. A polícia acredita que o autor do disparo que matou Santos, provavelmente ocorrido entre as 21h30 e 21h40, tenha fugido a pé.

Os policiais também não descartam outros meios de acesso do assassino à chácara. “Santos saiu por alguns minutos para levar o lixo até a portaria e o portão da chácara ficou aberto neste período. Na seqüência, não demorou muito para ele voltar e ir apagar a luz nos fundos, quando foi baleado”, diz Valmir. A DIG trabalha também com a hipótese de o crime ter sido encomendado. Santos tinha desafetos e negócios - havia deixado o bar e investido nos ramos metalúrgico e de venda de veículos. A polícia descarta o envolvimento de alguém da família no crime.

O porteiro do condomínio Portal das Flores foi ouvido pela polícia no domingo e disse não ter notado movimento suspeito na entrada do residencial. Ciola acrescenta, no entanto, que ainda é cedo para afirmar se o assassino passou pela portaria, encomendou o crime ou pulou o muro dos fundos. Dorgival Bezerra de Oliveira, o “Chaveiro”, continua fazendo parte das investigações, mas a DIG mantém o foco mais amplo na elucidação do crime.

A suspeita inicial recaiu sobre “Chaveiro” após a declaração da viúva. Em entrevista por telefone, no dia seguinte do crime, ela confirmou a informação que constava no boletim de ocorrência e disse que ouviu comentários de que “Chaveiro” havia dito em um bar que “Limeira estava pequena para os dois”, ele e Santos. “Não ouvi ele dizendo, foram apenas comentários”, resumiu, pedindo para encerrar a conversa.

Em seu depoimento, “Chaveiro” revelou o que fazia no momento do crime. Informou sobre o último contato com a vítima e negou a acusação. Foi liberado, mas as informações colhidas continuam sendo checadas pela polícia. Sobre a polêmica frase, “Chaveiro” disse em depoimento que a cidade estava pequena para os dois porque não suportava ver os amigos vencedores do bolão usufruindo o prêmio, fazendo churrascos, por exemplo, com um dinheiro que considerava seu também.

“Chaveiro” queria sair de Limeira. Relata ter mágoa por ter sido excluído do prêmio, mas enfatizou que não mataria por dinheiro. Argumentou que o caso ocorreu no ano passado e alguém que cometeu o crime estaria usando o episódio para acusá-lo. Por enquanto, a DIG ainda não tem elementos para ligar o crime com o prêmio da Mega-Sena. (Colaborou Érica Samara da Silva)

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