A eleição de 2014 tinha tudo para ser imprevisível depois daquela impressionante sombra que projetou-se no Congresso, na imagem que marcou para sempre as manifestações de junho de 2013.
E foi mesmo tanto imprevisível que terminou ontem da forma mais previsível possível no Brasil e no maior colégio eleitoral: PT x PSDB no segundo turno e Alckmin reeleito, respectivamente.
O tema que impulsionou o levante popular de 2013, mobilidade urbana, com as discussões sobre as tarifas do transporte coletivo, jamais esteve no centro do debate presidencial, nem no da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
A reforma política, que esteve no centro das manifestações, tampouco foi discutida minuciosamente entre Dilma, Aécio e Marina.
No calor da movimentação das ruas, Dilma apressou-se em propor mecanismos para esta reforma, que foram sepultadas por um Congresso reticente em dar sequência ao assunto.
Também pudera: a imagem da petista foi a mais abalada em junho de 2013.
Mais de um ano depois, ela praticamente recuperou o que havia perdido, a ponto daquilo passar agora quase despercebido.
Postulante há tempos à presidência, Aécio nunca conseguiu encarnar o espírito de mudança que o vozerio das ruas pedia.
A candidata que tinha o maior potencial para isso era Marina, e ela quase conseguiu. Vitaminada após ser catapultada à corrida presidencial depois da morte de Eduardo Campos, ela preservava inicialmente seu capital político, mas foi desidratada ao longo do último mês pela máquina publicitária petista.
Em São Paulo, onde ocorreram algumas das manifestações mais eloquentes em 2013, o espírito de mudança pedido naquele junho passou ainda mais longe da campanha eleitoral.
Mesmo com uma crise hídrica em andamento, Geraldo Alckmin liderou as intenções de voto do começo ao fim, sem precisar dar muita atenção aos votos de renovação.
Skaf e Padilha deram pouco trabalho, sendo o petista um dos maiores fracassos, já que era a aposta de Lula e não repetiu o projeto que deu certo com Fernando Haddad em 2012, frustrando o plano de tomar o colégio eleitoral que tanto almeja.
Pode ser que, no segundo turno presidencial, alguns dos temas em voga na agitação das ruas sejam tratados com mais frequência entre Dilma e Aécio, mas a manutenção da polarização PT x PSDB é um sinal de que os descontentes do ano passado seguem órfãos de uma alternativa política, a ponto de preferir reeditar o confronto de duas siglas que já estiveram no poder do que arriscar uma nova vertente.
Por ora, as manifestações de rua não passaram de um sonho de verão que ficou congelado no inverno daquele junho de 2013.
*Artigo publicado originalmente pelo editor na edição de 06-10-14 da Gazeta de Limeira
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
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