Ler as redações do Prêmio Gazeta de Literatura é um dos melhores termômetros para saber como pensam os jovens a respeito de assuntos atuais, relevantes e que exigem permanente reflexão.
O tema deste ano era, por si só, polêmico e impossível de passar despercebido, já que a Copa do Mundo que o país sediou envolveu, em maior ou menor grau, a maioria dos brasileiros.
Entre tantas observações sobre os legados do evento, chamou-me a atenção a expressiva menção a um episódio que não envolveu nenhuma seleção, estádio ou obra, mas uma torcida.
Após as partidas da seleção do Japão, seus torcedores só saíam do estádio após limparem toda a sujeira que produziram durante a festa.
Flagrado pelas câmaras, o gesto foi amplamente televisionado.
Não deixa de ser curioso: um comportamento que, no Japão, é uma rotina, fruto de educação e consciência sobre a responsabilidade da coletividade, no nosso país virou algo fora do comum e impressionou a todos, inclusive a juventude limeirense, que nas redações muitas vezes mencionou mais este gesto do que propriamente o legado de um estádio ou uma obra.
Este fato demonstra que, se devidamente amplificado (e o episódio da torcida japonesa invadiu os veículos de comunicação e as redes sociais), um bom exemplo de conduta pode, sim, marcar uma criança e adolescente para sempre.
Se não marcasse, passaria batido num exercício em que foram obrigados a refletirem sobre o legado da Copa. Mas não passou, sinal de que marcou. E passo a pensar em duas situações recentes e quais exemplos estão sendo repassados aos jovens.
No dia 5, dia da eleição, o brasileiro que tanto ficou impressionado com a torcida japonesa limpando seu próprio lixo, ao sair para votar, deparou-se com a injustificada sujeira deixada por aqueles que pleiteavam um voto para serem representantes da população nos poderes Executivo e Legislativo.
Dias depois, boa parte da sujeira ainda estava nas ruas. Sinal de que partidos e candidatos não aprenderam nada com os japoneses. E os jovens que viram o episódio da Copa voltaram a ter impressão negativa deixada justamente por quem deveria prezar pelo bom exemplo.
Para finalizar, me pergunto o que ficará dos agressivos embates que Dilma e Aécio travam neste segundo turno da eleição presidencial.
Os dois deixaram as propostas de lado e partiram para condutas de ataques mútuos nos últimos debates, trocando perguntas capciosas e respostas virulentas.
É válido passar aos jovens e a todos os brasileiros a impressão de que vale tudo para chegar à Presidência?
Se bastou apenas um evento para os japoneses demonstrarem como é fácil dar um exemplo, basta uma eleição para constatarmos como estamos carentes de exemplos, desde a distribuição de "santinho" ao "debate" proporcionado entre os aspirantes ao mais alto cargo da República.
*Artigo publicado originalmente pelo editor na edição de 20-10-14 da Gazeta de Limeira
** Crédito da imagem: Chandy Teixeira
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
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