Texto do autor publicado na coluna Prisma, edição de hoje (08/06/09) da Gazeta de Limeira:
"Há nove anos - falo do ano 2000, pouco tempo, não? - uma cena que vivi não me saiu da cabeça por muitos dias e, semana passada, voltou-me à mente.
Dezesseis anos de idade, cursava o 2º ano do ensino médio no colégio técnico (era o dia inteiro), recebia de minha mãe R$ 2 para garantir o almoço. Como a refeição custava R$ 1,80, restava, ao fim do dia, vinte centavos no fundo dos bolsos da calça.
Descobria, àquela época, a música - arriscava umas canções, como ainda hoje no violão. Com pouco dinheiro, queria um álbum azul do Pink Floyd, chamado The Division Bell. O preço: R$ 19,90.
Decidi disciplinar-me. Contei, dias a fios, as moedas, por meses, das sobras do almoço, até completar o suficiente para obtê-lo - a venda de uma apostila escolar, que não mais me serviria, ajudou-me, confesso, em cerca de R$ 9.
No dia da compra, a jovem caixa, que disse "próximo!", não conseguiu disfarçar um riso quando inclinei-lhe o CD com três saquinhos de metal: "Você precisa de moedas?". Pobre do homem que esperou a moça conferir de dez em dez centavos!
Na semana que passou, tive a oportunidade de obter novamente o mesmo disco, agora em formato MP3, pela internet. Tempo para consegui-lo: cinco minutos (claro, com uma boa internet, que custa uns vinténs a mais).
Pensei imediatamente naqueles "suados" vinte centavos economizados fielmente ao longo dos dias, que muitas vezes me custou umas balas à tarde na cantina. E foram só nove anos de distância.
Em abril, um site popular de downloads da Suécia foi julgado e os diretores condenados à prisão e multas milionárias por violação de direitos autorais - um outro site holandês também irá aos tribunais nas próximas semanas.
Na França, uma lei quer punir o usuário de internet que baixarem arquivos, incluindo músicas, ilegais. As compras de CDs, como me esforçei há nove anos, caem de forma abrupta a cada ano.
Não sei dizer se existe volta após a popularização da internet. Agora, tudo ficou mais fácil.
Há os que falam em prejuízo aos artistas. Pode existir, mas há muito a principal fonte de renda dos músicos são os shows, cujos cachês são caríssimos, e não a venda de CDs.
Sem a facilidade da internet, conhecer um disco de 1973 de um tecladista grego seria quase impossível - o CD, certamente, só é possível comprar hoje importado e isso não sairia barato.
A internet ajuda a popularizar, e assistir um show em DVD nunca terá a mesma graça do ao vivo, o que continuará a alimentar os cachês de produtores e músicos.
Mas quer saber? Apreciei muito mais, ao longo de várias semanas, o CD comprado com o suor dos vinte centavos de cada dia que o ouvido há poucos dias graças à internet. Foi tão fácil conseguir, e agora eu me pergunto “e daí?”, já cantava Raul".
segunda-feira, 8 de junho de 2009
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