Acompanho há dois anos o noticiário sobre o Poder Judiciário, em função do meu trabalho, e, ainda que esteja hoje um pouco mais distante dos tribunais, leio atentamente os argumentos jurídicos na medida do possível - e o leitor sabe disso, já que muitos posts do blog estão relacionados ao tema.
O argumento usado pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, autor da ação contra a exigência do diploma para jornalista, tem certa consistência jurídica, em minha opinião. De certa forma, a lei pró-diploma, decretada no período da ditadura militar, contraria o dispositivo da liberdade de exercício da profissão. Fazer o quê? Só se mudar a Constituição.
Também neste entendimento, a exigência de diplomas para médico, engenheiros e advogados deveria ser extinta. Se o entendimento é válido para um, deve valer para todos.
Mas quem vai 'peitar' estas áreas tão intocáveis da sociedade brasileira? E os ministros do STF, todos juristas, teriam isentabilidade suficiente para um julgamento que decida a validade do diploma para um advogado?
O diploma é um indicativo de capacitação. Realço o indicativo porque hoje muitos têm o documento e oferecem um produto de péssima qualidade. Isso acontece em quase todas as profissões, não é exclusivo da área jornalística.
A decisão do STF joga uma responsabilidade extrema aos proprietários de veículos de comunicação, que, pelo entendimento do Supremo, podem contratar qualquer um para a função de repórter.
Caberá aos veículos adotarem uma padronização. É melhor ter um profissional que tenha aprendido as técnicas de apuração em curso superior ou apenas um que sabe escrever bem?
Um jornal com qualidade não se resume apenas a uma equipe de jornalistas. Os chamados colaboradores contribuem muito, porque são especialistas em determinadas áreas e podem lançar visões pluralistas sobre temas de interesse público.
Mas eles jamais terão a técnica de contextualizar as informações, priorizar temas e hierarquizar a informação ao seu público-leitor. Habilidades que um formado em jornalismo precisa ter (digo precisa ter porque muitos, infelizmente, saem da faculdade sem saber o básico).
Daí o porque de articulistas escreverem em espaços diferenciados no jornal, separados das reportagens - quando juntos, o artigo fica bem explícito que trata-se da opinião de um articulista.
Os grandes veículos enfrentam cada dia mais os desgastes provocados pela globalização da informação. O jornalista não detém mais o poder único sobre a produção da informação. Qualquer blog pode divulgar hoje uma informação. Mas o jornalismo de qualidade, diferenciado, de credibilidade, demandará profissionais capacitados.
Se os veículos encamparem a tese de não exigir diploma (muitos devem usar isso para se beneficiar nas relações trabalhistas, o que só piora a situação para o lado do jornalista), contribuirão para a precarização do trabalho jornalístico. É um tiro no pé, que só os ajudará a perderem leitores, digo, clientes.
Sou a favor do diploma e de uma melhor regulamentação da profissão. Enquanto isso não for feito, ainda mais com a derrubada da Lei de Imprensa, haverá sempre vácuos jurídicos para se questionar o trabalho jornalístico. Isso é ruim para nós, jornalistas, ruim para a democracia, e pior ainda para a sociedade.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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concordo plenamente com a matéria, sou a favor !!
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