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domingo, 24 de maio de 2009

Félix precisa explicar, de fato, o que é (ou o que ocorreu com) a Worksheep

A história da vinda da Worksheep em substituição à refinaria da Nova América, no antigo prédio da Companhia União, é repleta de pontos obscuros que só se voltam contra o governo Félix.

Primeiramente, o anúncio da vinda de uma empresa financiada com capital estrangeiro, que aportaria cerca de R$ 28 milhões iniciais. Félix divulgou a informação no dia seguinte ao anúncio oficial da saída da Nova América da cidade.

O tempo vem mostrando que a atitude foi mais peça política para abafar a repercussão negativa do desemprego deixado pela Nova América.

Em seguida, a história do gás natural.

Fui o primeiro jornalista da imprensa limeirense a manter contato com Marcos Torres (na foto), um dos dirigentes da Worksheep. O que me rendeu reportagem publicada na Gazeta em 10 de janeiro de 2008, onde ele revelava que a diminuição do repasse de gás pela Comgás, efeito do acionamento das termelétricas do País em outubro de 2007, havia travado as previsões iniciais.

Factível.

A empresa queria investir em produção com foco nas exportações, mas, se isto não fosse possível, tinha planos para, com o gás reduzido, iniciar o refino de açúcar visando o mercado interno. Assim, quando a oferta de gás estivesse regularmente restabelecida, aportaria de vez os milhões que dizia ter.

Em maio de 2008, o mesmo Marcos Torres me informou que o contrato de arrendamento do prédio seria fechado com a Copersucar e que, assim, a refinaria estaria pronta para começar a produção em poucos meses. Primeiro prazo: 45 dias. Não foi cumprido. Os trabalhadores contratados para a manutenção do prédio foram dispensados.

Em agosto, a assessoria de comunicações do governo Félix enviou nota à imprensa informando que a Prefeitura havia concedido o alvará à empresa. Reparem: o plano inicial para a produção dito à imprensa era de 45 dias, mas nem alvará a empresa tinha. Segundo prazo estipulado: outubro. Não foi cumprido

Depois, em setembro, a crise financeira explodiu nos Estados Unidos e virou, em pouco tempo, justificativa para tudo. Porém, vejam abaixo trecho extraído da matéria assinada pela repórter Érica Samara da Silva, publicada na mesma Gazeta em 14 de outubro de 2008, em pleno período do auge da crise no exterior.

"Apesar da crise financeira mundial afetar principalmente os mercados de exportação, Torres afirmou que o momento é de “tormenta”, mas não deve ocorrer impactos na atividade da empresa em Limeira".

Ainda na mesma matéria, a expectativa era de que os primeiros contratos fossem fechados em duas semanas. O procedimento de contratação seria rápido, diz a reportagem, "assim como o início da produção".

Em 6 de novembro, em nova e última entrevista, Torres disse que, apesar da crise, a refinaria fechara contratos de exportação, principalmente para o mercado europeu. O dirigente garantiu que iniciaria a produção em dezembro e que a mercadoria começaria a ser embarcada no início deste ano.

Palavras de Torres: “Mesmo com a crise nós conseguimos fechar contratos porque o setor passa por reestruturação devido à queda de subsídios no mercado europeu desde o final de 2007”. Novo prazo estipulado, não foi cumprido.

Em 29 de novembro, com mais cobranças por parte do sindicato, Torres disse que não se manifestaria mais sobre o assunto. Desde esta data, seu celular não responde às tentativas de contato feitas pelos jornalistas. Nada de produção começar.

Em abril, o sindicato protocolou denúncia no MP denunciando suposto uso de verba pública no local. O promotor Cléber Masson instaurou procedimento para apurar a veracidade das informações.

Na segunda-feira passada, em encontro com jornalistas, o prefeito Sílvio Félix foi questionado, no momento em que de forma verborrágica contava seus planos para o desenvolvimento da cidade, sobre a Worksheep.

Félix parecia desconfortável na resposta. Contou toda a história já revelada pela imprensa. E, de forma surpreendente, disse que a crise havia atrapalhado os planos da empresa.

Não me contive: lembrei-o de que o primeiro prazo dado pela Worksheep era de 45 dias, o que daria julho, e que a crise financeira começara em setembro. O que houve neste espaço de tempo?

Lembrei-o que o plano inicial da Worksheep era produzir, com pouco gás, para o mercado interno. Ainda que a crise afetasse as exportações, a empresa tinha planos para se manter. Não me veio na hora as palavras de Torres, que, apesar da crise, contratos com o exterior haviam sido fechados.

Aí Félix disse que a empresa tinha ficado presa a uma imposição que a Nova América havia feito à Copersucar, dona do prédio, de que as instalações não poderiam ser utilizadas para produção visando o mercado interno por um tempo. Félix disse não se lembrar de quando seria esse prazo, mas, provavelmente, de um ano.

Que fossem dois anos. Os dois prazos já estão vencidos.

Curioso que, quando do anúncio oficial da empresa, em maio de 2008, às vésperas da corrida eleitoral, nem Félix nem Torres mencionaram este suposto condicional da Nova América. Ainda aos jornalistas na última segunda-feira, Félix chegou a dizer que, se não for a Worksheep, outra empresa assumiria o refino.

As explicações dadas não se mostram suficientes. Nesta semana, o sindicato denunciou Félix à Procuradoria Regional Eleitoral do Estado de São Paulo, por entender que o anúncio da empresa caracterizou propaganda eleitoral falsa.

Segundo a entidade, nem o CNPJ da Worksheep foi localizado.

Passou da hora da Prefeitura mostrar transparência e pôr às claras o que, de fato, está ocorrendo com a empresa.

Se foi preciso uma entrevista coletiva para anunciar a vinda da fábrica, outra se faz necessária, novamente com a presença de Marcos Torres, agora para explicar aos limeirenses o que deu errado.

2 comentários:

  1. Sr. Rafael,

    No final das contas, o que aconteceu com esta empresa Worksheep? Começou operações?

    Marcelo Freitas

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  2. Caro Marcelo, a Worksheep desistiu de produzir no município em fevereiro de 2009, sob a alegação de falta de crédito no mercado - estávamos na época do auge da crise econômica.

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