A condenação do aborto feito por médicos na criança de 9 anos que engravidou de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto, polemizada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, está coerente com aquilo que a Igreja Católica prega.
Causaria estranheza se fosse o contrário, o que, modestíssima opinião, seria muito mais notícia do que simplesmente o ato da excomunhão praticado por dom José.
Excomungar é um direito da Igreja Católica. Não vale para o direito comum. Não há nada de mais nisso. Quem é católico deveria, por coerência, defender o posicionamento de dom José. Foi o que o Vaticano e os bispos e padres da igreja fizeram. Não foi o que fizeram muitos que se dizem católicos, mas que toleraram o aborto das duas crianças. O presidente Lula, assim como muitos, é, no mínimo, incoerente ao criticar o bispo. Se ele é católico, deveria defendê-lo.
Não se pode ser meio católico. Na crença religiosa, não há meio termo: ou você acredita e defende-a com convicção ou não. Flexibilizar a crença é perigoso para quem professa, já que permite a contradição.
A polêmica da posição do bispo ganhou corpo pela atuação da mídia. Não vi, na mesma proporção, títulos enormes e chamadas de capa para a opinião dos evangélicos, espíritas, judeus, islâmicos, messiânicos, entre outros credos. A mídia tratou o caso como se o Catolicismo fosse a religião do Estado. Não é. O Brasil é laico; daí que se deu importância demais para a posição da Igreja Católica. Diante da legislação brasileira, não houve crime e o aborto foi necessário para a preservação da vida da menina.
Mais lamentável ainda é ver que a mídia não aprofundou o debate sobre outra questão referente ao aborto e que está prestes a ser decidida no Supremo Tribunal Federal (STF), que é descriminalização do aborto nos casos de fetos anencéfalos (sem cerébro). Por coerência, dom José repudia o aborto de anencéfalos. Se tivesse coerência com a religião que diz professar, Lula também. E quem tolerou o aborto dos gêmeos da menina de 9 anos, toleraria mais este tipo de aborto? Qual é a opinião dos segmentos religiosos sobre o assunto? Seriam temas de reportagens no Jornal Nacional ou conteúdo de chamada na capa do Estadão ou da Folha?
A mídia ainda parece ser "criança" no trato jornalístico de questões religiosas e ajuda a agravar o quadro de hipocrisia ideológica reinante neste país, que precisou ser desbaratada, infelizmente, com a tragédia ocorrida com a menina pernambucana.
quinta-feira, 12 de março de 2009
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