A necessidade de pessoas qualificadas para ajudar um governante em sua administração é um debate que se faz há milhares de anos.
Dia desses, enquanto assistia perplexo à "montagem" do ministério da presidente Dilma, conheci algumas ideias do filósofo indiano Kautilya, que viveu entre os anos 350 e 275 antes de Cristo.
Uma de suas máximas é: "A roda não se move sozinha". Ele defendia que o governante, antes de assumir, precisa da ajuda de mestres mais experientes e com maior conhecimento e, ao assumir, deve indicar pessoas capacitadas para serem seus conselheiros. Tão capacitadas que, se preciso fosse, deveriam impedir um governante com más intenções de agir a seu favor.
Kautilya, provavelmente, ficaria ainda mais perplexo do que eu ao analisar os "conselheiros" de Dilma.
Na Educação, para tocar o slogan "Brasil, Pátria Educadora", não é um especialista que assume, mas um político (Cid Gomes) que está recebendo uma recompensa por não apoiar um rival da presidente.
Na Agricultura, Kátia Abreu, ferrenha opositora do governo Lula, é a nova ministra, ela que pertencia ao DEM, sigla que, segundo Lula, deveria ser exterminada.
A pasta dos Esportes foi entregue à Igreja Universal, a um ano e meio das Olimpíadas, um ministro (George Hilton) que admite saber pouco de esporte, mas conhece gente, eufemismo para disfarçar a inexperiência.
Na pasta das Cidades, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo que terminou com péssima avaliação e em cujo governo progrediu a chamada máfia do ISS.
Nos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, apadrinhado de Valdemar Costa Neto, aquele condenado no caso do mensalão que está cumprindo pena.
Pior foi Dilma dizer que consultaria a Procuradoria-Geral da República para saber se um potencial ministeriável estaria nas investigações da Operação Lava Jato. Óbvio, recebeu um "não", já que o MP não é órgão consultor do Executivo.
Os novos ministros podem até surpreender em suas tarefas, mas é sintomático o fato de o ministério ter sido montado na base da troca pura de apoios no Congresso, e não na capacitação comprovada nas áreas.
E isso virou rotina no País do "presidencialismo de coalizão", no qual o Executivo fica dependente de um Legislativo composto, também, por siglas que só existem para negociação de cargos e apoios.
Por mais que Dilma quisesse um ministério técnico, ela não conseguiu escapar do fisiologismo que domina as relações políticas no País.
Pior que a montagem do ministério é entender como normal essa política de compensação partidária em detrimento da qualificação técnica. Os comandantes do Executivo de todo o País deveriam se atentar, também, à outra frase de Kautilya: "Através dos olhos dos ministros, as fraquezas de outros são vistas".
Mais atual do que nunca.
* Artigo publicado originalmente pelo editor na edição de 05-01-15 da Gazeta de Limeira
** Crédito da imagem: Agência Brasil
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
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