Faltando poucos dias para a eleição e, ao menos até no último sábado, Marina Silva era a única candidata à Presidência que apresentou, em texto, um programa de governo com as ações e compromissos que planeja para o País, caso consiga chegar ao Palácio do Planalto.
O que era para ser uma distinção tornou-se o inferno particular de Marina, por causa das polêmicas criadas pelos adversários, Dilma e Aécio - a primeira, principalmente -, que tiraram o mês de setembro para bater na candidatura marineira. Deu certo: as intenções de voto para a substituta de Eduardo Campos estão em queda e sua ascensão meteórica foi arrefecida.
Ok, não se deve analisar uma candidatura apenas pelo fato de ela ter as propostas no papel ou não. Dilma, por exemplo, vendo o desgaste de Marina, apressou-se em dizer que seus compromissos estão nos debates e na campanha no rádio e TV, e Aécio diz que, até 5 de outubro, o plano será divulgado (adianta fazer isso somente agora?).
Porém, a apresentação de um plano formal representa, para o eleitor, algo com o que se agarrar para fiscalizar e cobrar depois do pleito. Mais: uma pessoa que deseja comandar um Executivo deveria, sim, apresentar formalmente suas ideias em tempo hábil para o crivo do eleitor e da sociedade.
Independentemente do mérito do conteúdo das ideias (considero muitas fracas), Marina assim o fez e paga isso.
Questionada pelo pastor Silas Malafaia, ela promoveu mudanças no plano, prato cheio para os rivais. Outras propostas foram dissecadas e viraram armas nas mãos dos marqueteiros adversários, em especial o de Dilma.
A agenda proposta por Marina virou a agenda de Dilma e Aécio. Aí, é mais fácil, sem dúvida, contestar, rebater, desconstruir uma ideia do que criá-la e defendê-la.
O legado da campanha eleitoral de 2014, por ora, é sinistro para o futuro das campanhas eleitorais.
O jornalista Sérgio Malbergier anteviu isso na semana passada, em artigo para o site da Folha: "O que definirá nosso futuro deve ser mais a ignorância do que a sabedoria do eleitorado. Pelo menos é nela que os marqueteiros apostam. E apostar na ignorância pode ganhar eleição, mas não pode dar certo. (...) Ninguém quer voltar para trás, quando tudo era muito pior. A armadilha é que para não voltar para trás, também não vamos para frente".
O recado do momento é: firmar compromissos no papel é armar os adversários. Poderemos ter, no futuro, candidatos que rejeitam detalhar suas propostas com medo de os rivais desconstruí-las. Isto é ruim para o eleitor, para a sociedade e para a democracia.
*Artigo publicado originalmente pelo editor na edição de 29-09-14 da Gazeta de Limeira
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
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