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segunda-feira, 16 de março de 2015

Hora da sinceridade

Pedir desculpas deveria ser um gesto simples e espontâneo, mas é cercado de complicações.

Se na cultura japonesa é mais do que uma questão de educação – é um pilar da cultura local -, na brasileira o gesto esbarra nas consequências do que pode vir a ser um reconhecimento de falha.

Na esfera governamental, pedir desculpas equivale, muitas vezes, a um suicídio político e a certeza de oferecer a um adversário ferramentas que serão utilizadas contra ele próprio em hora conveniente.

A revolta que levou ontem brasileiros às ruas e o sentimento antipetista que aflorou na última eleição e, pelo jeito, só cresce, decorrem em grande parte de erros comportamentais do próprio PT no governo.

Em 2005, em meio ao escândalo do mensalão, Lula foi à TV pedir desculpas ao povo brasileiro, dizendo que era necessário tomar medidas drásticas para evitar que situações como aquela continuassem a se repetir no futuro. Na época, o PT expulsara Delúbio Soares, numa tentativa de mostrar que cortava da própria carne.

O tempo encarregou-se de mostrar que nenhum dos gestos foi verdadeiro. Lula deixou a presidência dizendo que passaria a vida inteira desmascarando o mensalão, já julgado pela Justiça. Delúbio foi reintegrado ao partido. E, a julgar pelo que vemos na Petrobras, situações até piores do que o mensalão continuaram a ocorrer.

A campanha de Dilma no ano passado aumentou a percepção de fingimento.

Marina foi destruída por uma peça publicitária terrorista, feita pelo PT, que a associava aos banqueiros, para mais tarde a presidente reeleita ir a um banco buscar seu ministro da Fazenda.

As primeiras medidas tomadas para mudar o cenário econômico que seu próprio governo criou se encaixam mais no que Dilma dizia que seus adversários fariam do que naquilo que ela dizia que faria.

Some isso à montagem de um ministério com pessoas que, até ontem, demonizavam o PT, o que, naturalmente, criou constrangimento com seu próprio partido.

Adicione, a seguir, o discurso desastrado da presidente no último dia 8, quando pediu paciência aos brasileiros sem oferecer nenhuma palavra ou ação enérgica contra a lama descoberta na Petrobras comandada por seu partido.

Convenhamos: para que o trabalhador tenha paciência recebendo a conta de energia, em média, 24% mais cara e pagando gasolina mais cara, é preciso oferecer algo.

Se Dilma não tem nada a mostrar de ações exemplares contra corruptos e corruptores, ao menos poderia pedir desculpas e reconhecer que seu governo errou na condução da economia nos últimos anos.

Ao não fazer nem um nem outro, ela própria alimenta o discurso – legal dentro da democracia, mas sem razão jurídica, por ora – do impeachment.

Passou da hora de um pedido de desculpas mais sincero.

* Artigo publicado pelo editor originalmente na Gazeta de Limeira edição de 16-3-15

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