Se você já se perguntou alguma vez como alguém toma a decisão de virar árbitro de futebol – sempre coadjuvante, nunca unanimidade, questionado sobre todas as decisões e, não raramente, xingado por ambas as torcidas, criticado até mesmo quando acerta, entre outras peculiaridades -, imagine o agente de trânsito, especialmente em Limeira.
Na última semana, os chamados “laranjinhas” fizeram uma manifestação para chamar a atenção da população e das autoridades sobre a segurança deles. No ato, não faltaram exemplos – até recentes – de violência sofrida, tanto verbal quanto física.
É impressionante a quantidade de pessoas com quem conversei que, além de discordarem do ato, se queixaram com firmeza da atuação dos agentes, simplesmente ignoraram o manifesto dos servidores para denunciarem o que classificam como “abusos”, “indústria da multa”, para ficar nas amenidades.
Nas redes sociais, houve quem concordasse com a agressão sofrida por um dos agentes, dizendo até que “ajudaria” a bater caso estivesse por perto, numa evidente e perigosa inversão de valores – e injustificável, pois agressão é crime.
O distanciamento entre motoristas e agentes de trânsito se impõe, desde já, como um desafio aos postulantes a prefeito em outubro de 2016.
Não é tarefa fácil. Há quem acredite que a função do agente deveria ser apenas educar, orientar o motorista, e não multar.
Novamente há uma inversão de valores aí, já que o agente de trânsito não cumpre papel de instrutor. Infelizmente, nenhum CFC forma especialistas em leis de trânsito.
O déficit de conhecimento sobre o assunto se revela nas ruas, no dia a dia, e explode diante da atuação do agente de trânsito. É ele quem verifica a letra fria da lei e indica a sanção, legalmente prevista, que deve submeter ao motorista.
Ninguém gosta de ser punido, mas este é um dos trabalhos do agente. Há abusos? Relatos existem aos montes. Sempre partem de motoristas penalizados.
No fim, a dificuldade em recorrer de uma multa, constituindo advogado, a descrença em ver uma queixa dando resultado, se colocam como barreiras às quais a saída mais fácil é pagar a multa e xingar o sistema e o agente.
Vai o dinheiro, mas a raiva com o trabalho dos agentes fica. E este sentimento fica evidente nos discursos contrários aos pedidos de mais segurança aos agentes.
Uma ouvidoria na área, para averiguar a sério a conduta dos agentes, poderia ser interessante, até para desmistificar um pouco essa sensação de “indústria da multa”, fácil de entender quando vemos os recordes de arrecadação com multa. Mas é preciso, paralelamente, que o motorista não enxergue o agente como um sujeito mal intencionado e reconheça suas infrações. Em suma, Limeira precisa demais repensar a convivência no trânsito.
* Artigo originalmente publicado na coluna Prisma, edição de 07-06-16 da Gazeta de Limeira
sábado, 11 de junho de 2016
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