Eu desconfio de todo pacote de medidas anunciadas da noite para o dia.
Na semana passada, menos de um ano depois que os brasileiros foram às urnas para escolher a melhor proposta ao País, surge, no meio da crise política-econômica na qual se meteu o governo Dilma, um rol de ações elencadas inesperadamente pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que até outro dia andava a espezinhar o governo.
A “Agenda Brasil” mal foi discutida e já foi imediatamente aprovada por Dilma, que tratou até de ampliar as medidas para sair do marasmo que hoje marca sua administração.
Como todo pacote de medidas anunciadas da noite para o dia, é melhor não esperar muita coisa dali.
Em 2013, acossada por uma manifestação que começou por reivindicações no transporte coletivo e ganhou ares inimagináveis contra a classe política, Dilma também anunciou uma série de propostas no âmbito da reforma política, em especial uma espécie de assembleia nos moldes da Constituinte. Como previsto, não deu em nada.
Neste ano, a Câmara dos Deputados, para mostrar serviço, decidiu finalmente votar um pacote de ações para implementar a reforma política. Quase nada mudou, e o que foi alterado, em alguns casos, significou voltar a estágios já conhecidos, como o fim da reeleição, nada de novidade.
A “Agenda Brasil” tem vários tópicos genéricos, como “expandir a possibilidade de firmar acordos bilaterais e multilaterais”, ação tão óbvia que deveria ser a natural missão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Dos 27 itens inicialmente sugeridos por Renan, 19 já tramitam em forma de projetos de lei. Chega a ser curioso o fato de o Congresso oferecer uma pauta, com ares de salvação, ao Executivo sendo que dormita nele a mesma pauta.
A mais promissora das propostas, que é a redução do Estado, com enxugamento de ministérios e cargos, é a que mais terá resistências.
Da boca para fora, é fácil externar esse desejo. Difícil é fazer o corte, que afetará funções ocupadas por indicados de partidos que hoje formam uma base extremamente frágil na Câmara dos Deputados e já descontente com o governo.
O Renan que vai trabalhar a aprovação desse tópico é o mesmo que retaliou Dilma no início do ano porque um indicado seu foi despejado por Dilma do cargo para acomodar outro aliado.
Velha, a agenda é uma bela cortina de fumaça para esconder a inércia do governo federal. Apenas isso.
* Artigo publicado originalmente na Gazeta de Limeira edição de 17-8-15
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
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