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terça-feira, 14 de abril de 2015

Pastor Nilton e a Câmara invisível


A Câmara Municipal conseguiu um feito imbatível.

Tirou da pauta local, provisoriamente, a dengue, assunto que dominou as rodas de conversas nos últimos dois meses.

A proeza foi aprovar, em regime de urgência especial, o aumento do salário dos vereadores em 103%, a partir de 2017.

A decisão provocou repulsa e só aprofundou a percepção de distanciamento dos vereadores à dura realidade em que vive a maioria dos trabalhadores.

O Legislativo mostrou-se invisível e alheio ao preceito democrático de debater um assunto público - e delicado - de forma transparente.

Optou em deliberá-lo por meio de um injustificável e apressado mecanismo.

A única explicação para o método ardiloso é entendê-lo como propósito de se fazer uma votação à francesa, levemente admitida, indiretamente, pelo presidente Nilton Santos à imprensa.

O Legislativo mostrou-se invisível e insensível perante o contexto econômico do País.

São tempos de incertezas, com demissões em massa desde o ano passado. O governo federal se esforça, de forma débil, em emitir sinais de credibilidade ao mercado e ao mundo com um pacote de medidas que atinge empresários e trabalhadores, mais estes do que aqueles.

São tempos de reajuste alto na energia elétrica e nos serviços de água e esgoto. Com a economia debilitada, a arrecadação é menor e os cenários no Poder Público não são animadores.

Como pedir a compreensão para um aumento de 103%?

Defasagem de salários se corrige com aumentos pertinentes à situação financeira do orçamento público.

Se os vereadores querem melhor estrutura, devem, sim, exigir da presidência do Legislativo mais equipamentos para o exercício da vereança.

Todo ano a Câmara devolve dinheiro ao Executivo. Por que não investi-lo em equipamentos?

Por que mais estrutura deve significar, necessariamente, apenas remuneração maior ao vereador? Não faz sentido.

Outra justificativa, de que é necessário valorizar o Legislativo, também não cola. Quem valoriza o Legislativo é o eleitor, é a sociedade.

Se a única forma de valorizar o vereador é dar-lhe mais salário, é sinal de que incentivamos a função como meio principal de vida. Vereador não é profissão, mas uma ocupação, temporária, delegada pelo eleitor.

Se Raul Seixas, na inesquecível canção "Pastor João e a Igreja invisível", cantava "Pra mim, não existe o impossível", em Limeira, na Câmara comandada pelo pastor Nilton Santos, o que muitos achavam impossível passou a existir. Faltou combinar com a população.

Que eles, os responsáveis pelo insensato reajuste de 103%, se acertem com ela. Nos próximos dias ou na próxima eleição.

* Artigo originalmente publicado pelo editor na coluna Prisma da Gazeta de Limeira, edição de 13-4-15

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